quinta-feira, 18 de junho de 2009

Há 20 anos o Fogão renascia...


1989 – A REDENÇÃO DA NAÇÃO BOTAFOGUENSE

Era apenas mais um ano, mais um mês, mas um dia comum para muita gente, mas para todos os botafoguenses era o dia das suas vidas. Dia 21 de junho de 1989, dia do 2º jogo da final do campeonato estadual, dia em que somente uma equipe poderia ser campeã. Era dia de Botafogo! 21 anos sem qualquer título, era agora ou nunca!

1968, ano do bicampeonato carioca conquistado pela geração de ouro do Fogão, ano em que eu nasci, e esse era o último caneco alvinegro. 21 anos, era a minha idade, o mesmo tempo em que o Fogão não conquistava um título. E estava a apenas 90 minutos de mudar definitivamente nossas vidas... Só queria gritar para todo o mundo ouvir: O Botafogo é campeão!!!

Após anos e anos de frustrações e lamentações, finalmente o sonho nunca esteve tão próximo de realizar-se. A última derrota do Fogão fora no campeonato carioca anterior, 3x0 para o Vasco, jogo que ficou marcado pelas lágrimas da gandula Sonja, alvinegra de apenas 11 anos que exigiu um basta naquele jogo. E embarcamos no seu pleito, e os jogadores também.

Emil Pinheiro, nosso “mandachuva”, trouxe Mauro Galvão, Gottardo, Criciúma e Maurício para pôr fim ao incômodo jejum. O time foi encorpando, Valdir Espinosa passando confiança e os jogadores passaram a acreditar no placar eletrônico do Maracanã piscando: Botafogo – Campeão Estadual de 1989. A impressão que se tinha era que naquele ano seria na marra e estávamos todos dispostos a dar um ponto final na agonia. E o resultado disso era notório nos estádios: todos lotados em jogos do Fogão.

Havia uma nuvem negra que não nos permitia vencer os clássicos, mas também não perdíamos. O fato é que isso também nos incomodava, afinal já eram três anos sem vitória num clássico. O Fogão seguia invicto, mas os empates nos clássicos nos atrapalhavam, e já nos impedira de ter vencido a taça GB. Ainda assim chegamos ao final do 2º turno com a taça Rio nas mãos. Bastava vencer o Bangu e passaporte garantido na final. Sábado à tarde, quase 50 mil botafoguenses no Maracanã e frustração total: 0x0. Foi um jogo tenso e o peso dos 20 anos travaram o Fogão. A sensação de quem foi ao estádio era de que nunca seríamos campeões. Ah, ainda restava uma esperança: o Fla perder para o Vasco. Justo o Vasco, o pior dos grandes naquele ano. O jogo seria no domingo, então preparamos nossa mandinga e orações para que a praga acometesse o time dos urubus. Mas desgraça para botafoguense é infinita. No domingo caiu um dilúvio na cidade e o jogo foi adiado para segunda-feira à noite. Os mais otimistas entenderam que os Deuses estavam conosco, os mais pessimistas diziam que a música de Tom e Vinícius “tristeza não tem fim, felicidade sim...” fora composta para nós alvinegros.

O tempo continuou chuvoso na segunda-feira, mas a bola rolou assim mesmo. O Vasco jogou pelo campeonato todo, e pelo Fogão também. Mas gol só no tempo final. Cocada sofreu pênalti e Dinamite converteu. Comecei a acreditar no sonho. Aos 39, porém, Paulo Roberto deu mole e Bebeto empatou. Era o suficiente para adiar nosso sonho. Mas aí o imponderável surgiu. O mesmo Paulo Roberto, na saída de bola, arriscou de longe e Zé Carlos aceitou: 2x1 Vasco, aos 40 do 2º tempo. E acabou assim. Fogão campeão da taça Rio, numa segunda-feira à noite, chuvosa, e a torcida soltando metade do grito da garganta: É campeão! Mas logo vinha à mente que teríamos o Fla pela frente, e com um timaço. Mas nos últimos 20 anos nem na final chegávamos, e agora tínhamos de fato uma possibilidade de ser campeões.

O regulamento dizia que a equipe que somasse mais pontos em toda a competição teria a vantagem de um ponto numa melhor de três. Nessa época cada vitória valia 2 pontos e o empate 1 ponto. Ou seja, quem conquistasse três pontos primeiro seria o campeão. Na lógica, o Fogão jogava por três empates ou uma vitória e um empate. No 1º jogo, num domingo à tarde deu 0x0. Jogo truncado, quase sem chances de gol.

DIA 21 DE JUNHO DE 1989 – A RESSURREIÇÃO ALVINEGRA

Vivi os três dias mais longos da minha vida no intervalo de domingo até quarta-feira, dia 21 de junho. Eram noites mal dormidas, e por mais que eu quisesse me desligar um pouco do dia D, a todo o momento ecoavam em minha mente os gritos de É Campeão! Incrível como meus olhos lacrimejavam a cada instante que imaginava a taça de campeão estadual sendo erguida pelo Mauro Galvão. E foi assim o dia inteiro. Acreditava que a decisão de fato ocorreria no 3º jogo, e até imaginava o Fogão campeão com três empates, ora, eu queria mesmo era ser campeão. O jogo passou ao vivo na TV manchete e na Globo. Nessa época romântica ainda era comum, pelo menos pra mim, ver o jogo ouvindo o Garotinho, na rádio Globo. Era olho na tela e ouvido no radinho, era muito mais dinâmico e emocionante. Quando o Fogão entrou em campo e vi aquela festa toda de uma torcida louca e ávida por um título, permiti rolarem as primeiras lágrimas. Quando ouvia, nas entrevistas, a lucidez e frieza do Carlos Alberto, a determinação de Luizinho, a segurança de Galvão e Gottardo minha confiança aumentava e minha vontade era partir para o Maracanã naquele momento, mas os 25 km de distância não mais permitiam, então era torcer e rezar para que Garrincha e todos os Santos iluminassem o Fogão.

Finalmente a bola rolou. Eu tremia igual a vara verde. Eram calafrios, suadouro nos pés e mãos e coração a mil por hora. O Fla era treinado por Telê Santana, o melhor técnico da época. O Bota tinha em Valdir Espinosa o responsável pelo resgate da autoconfiança, do time, do clube e de cada torcedor. Não chutamos uma bola sequer a gol no tempo inicial. Também não importava, nosso forte era a defesa, a menos vazada do campeonato. No popular, não passava uma agulhinha sequer, era esse o sentimento. A cada ataque do urubu, com Zico, Bebeto, Zinho e Cia, era um Deus nos acuda. Bebeto acertou uma cabeçada no ângulo, era gol certo, mas Ricardo Cruz operou milagre e tirou com as unhas. Ufa! Como rezei para que acabasse logo o 1º tempo. Impressionante mesmo como toda a torcida tinha a mesma sensação. Sim, pois virar o tempo inicial com um 0x0 nos dava uma grande vantagem psicológica, pois quanto mais tempo de empate mais perto do título estaríamos. A verdade é que o nosso time ainda estava travado demais, eram 20 anos em 90 minutos, e naquele momento em apenas 45. Voltamos para o tempo final sem alterações. Eles também.

Bola rolando e a pressão seria deles, mas nem tanto. Nossa torcida começou a empurrar e o grito de Fogo ecoava no sagrado Maracanã. A temperatura de 21 graus passou a nos dizer algo, pois 21 era nosso tempo de fila. Zico teve uma chance de ouro: falta na entrada da área, bem ao seu estilo. Tensão total no maior do mundo: Zico, a barreira e o gol. Ufa, tiramos com os olhos essa falta do Galinho. 12 minutos, Luisinho recebe no meio e lança Mazolinha, que vai ao fundo e cruza. Nesse momento Maurício e Leonardo estão no lance, e o toque sutil de Maurício em Leonardo significava o fim de 20 anos de sofrimento de uma torcida. “Sai da frente que esse é o gol do título!” Bradou Maurício. Quando vi a bola entrar e tive a certeza de que era gol legal do Fogão gritei, pulei que nem pipoca e chorei feito criança. Era um turbilhão de sentimentos num só momento e queria que tudo acabasse ali.

Seria o fim da agonia? Mas logo me dei conta de que ainda faltavam 33 minutos. Meu Deus, isso é uma eternidade, e lembrei também de que do lado de lá Bebeto poderia decidir. E tome pressão. E mais pressão. Gottardo, Galvão, Josimar, Luisinho e Carlos Alberto eram gigantes, onipresentes. A cada ataque do urubu eu gritava socorro, pois era um estrago no penteado alvinegro. 40 minutos, o grito preso na garganta por 20 anos quer sair, mas o Fogão não faz o 2º gol, e tome sofrimento. Eu de frente pra TV, chutando tudo, tirando como dava, aliás, eram milhões de alvinegros em todo o Brasil que chutavam pro mato porque o jogo era de campeonato. A torcida não resistiu e começou a gritar É campeão! Isso aumentava minha angústia, pois somos como as tragédias gregas, mas naquela noite o grand finale já estava escrito e sacramentado. 45’, Valter Senra, o Bianca, olhou para o céu e nos contemplou: BOTAFOGO CAMPEÃO CARIOCA INVICTO DE 1989!

Pulava, chorava, abraçava irmãos, amigos, e queria que aquilo não fosse mais um sonho. E eles confirmavam que o Botafogo era campeão. E eu, cheio de júbilo, pedia para repetir, por favor, novamente, o que você disse? “O Botafogo é o campeão carioca de 89, e invicto!”

“Esse é o Botafogo que eu gosto, esse é o Botafogo que eu conheço, tanto tempo esperando esse momento, deixa eu festejar que eu mereço”. Beth Carvalho compôs com inspiração de quem tem alma preta e branca. O Botafogo é orgulho, paixão, irresponsabilidade. É ego, id e superego. É razão e emoção. É um desejo intenso e incontrolável. É paixão na acepção da palavra e concomitantemente amor eterno, pois mesmo quando nos maltrata com persistência, continuamos te amando com mais fulgor. Você, BOTAFOGO, nos faz um ser diferente.

Sem dúvida alguma, temos três datas para comemorarmos eternamente: o dia do nascimento do Botafogo, o dia da fusão que nos tornou Botafogo de Futebol e Regatas e o dia da Ressurreição Alvinegra: 21 de junho de 1989. Um momento singular na história do Glorioso Botafogo!